[Notícias] Assaltava para sustentar vício de sexo virtual

[Mr_QuIm]

Utilização das salas de sexo em "chats" paga com assaltos a 26 bancos ao longo de três anos e meio.

No total, Carlos P. assaltou 26 bancos apenas com um objectivo: sustentar a mania das salas de "chat", à qual o seu salário mensal de 900 euros já não conseguia fazer face. Só um esquema de notas falsas, montado pela Polícia Judiciária, o travou.

Entre Agosto de 2004 e Março de 2008, das 14 às 23 horas, Carlos P. era um simples operador de armazém da Logic, na Póvoa de Santa Iria. De manhã, dedicava-se a planear os assaltos a agências bancárias em Lisboa, que perpetrava mensalmente com recurso a uma arma de fogo e sempre com o mesmo método, de modo a conseguir pagar as inúmeras mensagens de telemóvel que enviava para os "chats" de encontros sexuais, da TVI.

Devido a um esquema preparado pela Polícia Judiciária (PJ) com o Banco Português de Investimento, o Millenium e o Santander - as três entidades bancárias alvo da preferência do assaltante -, Carlos só viria a ser detido em Agosto de 2008. Encontra-se, desde então, em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional da PJ, aguardando julgamento no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, recusando-se a prestar declarações ou a colaborar com as autoridades.

O plano para a sua identificação consistiu na colocação de dinheiro sueco nas caixas de várias agências daqueles dois bancos, que eram depois entregues pelos funcionários durante os assaltos. Com 50 anos e separado, Carlos caiu na armadilha ao tentar depositar cerca de 200 coroas suecas na sua conta bancária, dias depois de mais um assalto. O arguido foi ainda referenciado pela sua dentição muito amarelada e cariada, descrita pelos funcionários dos balcões.

Segundo a acusação do Ministério Público, o arguido agia sozinho e guiava-se por métodos repetitivos. Optava sempre por agências pequenas, perto de parques de estacionamento. Mensalmente, nos dias que escolhia para levar a cabo os assaltos, pedia um dia de férias à empresa onde trabalhava. A indumentária também não variava: pólo azul claro, óculos de sol e um blusão de ganga azul.

Munido de uma pistola de alarme, transformada numa arma de fogo, Carlos conseguiu levar das agências cerca de 29 mil euros - que reforçaram em pouco mais de mil euros por mês o salário de 900 euros -, chegando ao cúmulo de sair de algumas delas com pouco mais de 10 euros.

"Bom dia, isto é um assalto. Não lhe quero fazer mal. Ponha o dinheiro que tem na caixa dentro do saco", referia sempre o arguido aos funcionários - que constituem a prova testemunhal do Ministério Público. Ao que se seguia: "Ponha as mão à vista, em cima da secretária, de maneira a que eu as veja". Concretizado o assalto, o indivíduo abandonava o local de forma calma e com passadas moderadas.

Entre o BPI, na Avenida 5 de Outubro [o primeiro a ser assaltado], e o Millenium, da Praça de Alvalade [o último], os balcões escolhidos situavam-se entre a casa de Carlos P., no Largo António Viana, em Lisboa, e o trabalho, na Póvoa de Santa Iria. O arguido apenas viria a interromper por semanas os assaltos quando, em Junho de 2007, a comunicação social exibiu imagens suas do assalto ao Millenium da Avenida da República.

De acordo com as declarações da ex-mulher, que constam na acusação, Carlos P. estava viciado nas tais salas de conversação de cariz sexual [onde quem procura e é procurado, para esses fins, troca mensagens instantâneas por telemóvel, usando um 'nickname', omitindo o verdadeiro nome].

Através dos 'chats' conhecia mulheres com as quais mantinha encontros de cariz sexual. Duas delas caminharam para algo mais sério. Em 2005, uma delas viria a ter um filho resultante desses encontros.


Fonte: Jornal de Notícias